quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Diz de novo!!!!

Não resiti.

Acabei de receber o Contardo da semana por e-mail e mais uma vez essa necessidade de postá-lo. Quem me conhece sabe. A primeira vez que fiz sexo me senti enganada. Por dois motivos. O primeiro é que havia nada daquilo que via na tv e no cinema. O sexo era mais "sujinho" do que imaginava. E segundo por que foi ruim mesmo (ainda hoje não acredito como fiquei anos com uma pessoa sendo tão mal comida). Passado o trauma do primeiro, adorei a "imundice" do segundo. E por ai vai, cada dia fica melhor, nem acredito.

Cada vez mais acredito que sou um estudo de caso do Contardo. Uma espécie de Ana O. Calligariana. Histérica eu sou. Esse blog é o meu purgante psíquico. Uma catarse não hipnótica.

Esse Digníssimo-senhor-tudo-de-bom cita todos os meus questionamentos e, honestamente, há uns meses atrás passou , semana após semana, a escrever sobre assuntos que eu estava vivendo(?!). Telling my whole life with his words. Killing me softly... Bizarro.

Língua acha que ele controla minha mente secretamente. Mais ou menos como é cogitado em "O Mundo de Sofia", ele deve ser um ser superior que imagina algumas personagens. Me faz acreditar que tenho vida, que respiro e tenho corpo físico. Na verdade sou apenas obra de sua imaginação. Pode ser. Vou mais longe, qualquer dia vou deixar de existir apenas no plano imaginário, quando ele publicar seu caso mais célebre: Fernanda A. Nessa obra ele deve citar todos os meus recalques. Se alguém do mundo real ler esse livro, favor revelá-los. Não quero chegar à neurose. Muita psicanálise? Foi né? Tenho problemas com meu com meu superego.

Parei, juro.

Quer ver como eu tenho razão? Vocês acreditam que ele, no meio do texto, escreve a palavra CONCUPISCÊNCIA? Minha palavra favorita. Me tremi inteira quando li.

P.S.:A matéria não está completa, editei um pedacinho para ficar mais palatável.

CONTARDO CALLIGARIS

Sexo "artístico"

No cinema, o sexo é um bailado de corpos que se exercitam, com luz e música apropriadas COM FREQÜÊNCIA (crescente?), o sexo, no cinema, consiste em cenas intermináveis nas quais fragmentos de corpos, enquadrados de maneira que não se sabe mais se são nádegas ou seios, movimentam-se numa luz suave e com uma trilha sonora que é uma espécie de Galvão Bueno da "transa" -só que mais previsível que o apresentador global.

Talvez se trate de um efeito da censura ou da autocensura: o disfarce "artístico" vale como pretexto para que a gente se autorize a mostrar coisas que, sem isso, pareceriam proibidas. O fato é que, em geral, esse sexo "artístico" me causa um mal-estar. De repente, passo a contemplar (no escuro) a ponta de meu sapato, como um adolescente que estivesse na companhia dos pais.

Mas não é por pudor infantil: no cinema, uma cena de sexo que seja pornográfica ou simplesmente realista não me causa mal-estar algum, e, quer eu goste ou não, sigo olhando para a tela. De onde vem, então, minha dificuldade com o sexo "artístico"? Uma amiga gostava de um homem bonito e "sarado". Quando se deitaram juntos pela primeira vez, havia um grande espelho ao lado da cama. No meio das escaramuças, o homem olhava insistentemente para o espelho. Minha amiga pensou que ele devia achar excitante a visão dos dois corpos nos gestos do amor, mas logo ela notou que o homem não parava de flexionar seus tríceps verificando, no espelho, a definição de seus músculos. Minha amiga perdeu o entusiasmo; esperou, educadamente, que a transa acabasse e nunca mais encontrou o homem.

"O que foi?", perguntei, "você ficou com ciúmes dos olhares apaixonados que ele reservava para seu próprio corpo?". "Não", respondeu minha amiga, "só fiquei com a sensação de que a gente estava na academia. E aí perdi o embalo".

Pois bem, no cinema, as representações "artísticas" do sexo me fazem um efeito parecido: é como se o descontrole do corpo erótico (que, claro, concordo, pode ser obsceno) fosse substituído quer seja por um bailado de corpos higienistas que se exercitam, quer seja por uma câmara lenta de músculos e pele, que parece ambicionar o estatuto de obra de arte abstrata.

Em suma, no estereótipo cinematográfico, o sexo parece mais estético, saudável e pretensamente poético do que extático. Ora, o sexo não é nada disso, e torná-lo "artístico" não é apenas um jeito de representá-lo, é também um jeito de domesticá-lo, de regrá-lo. (...)

(...) Por exemplo, quem negará que a vida saudável, a harmonia e a higiênica limpeza são valores "naturalmente" benéficos? Então por que seríamos reféns da "feiúra" da concupiscência, quando é possível (como sugerem as cenas artístico-eróticas do cinema) viver orgasmos lindos e simultâneos, quem sabe ritmados pelo coro da "Nona Sinfonia" de Beethoven? Sem contar que, com luz e música certas, também parece óbvio que o sexo possa espontânea e naturalmente conviver com o amor. Não é? (...)

Um comentário:

Cinéfilo disse...

Só pra deixar claro: Seus posts sempre têm repercussao. As vezes a preguiça é que não deixa a gente escrever. Além do fato de não ter internet em casa e de estar sempre atrás de internet grátis (leia-se casa de amigos ou cafés).
Não tinha lido o Contardo de hoje. Muito bom, as usual. Abaixo o sexo asséptico...
Beijo