sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Nada além

Ia escrever sobre Onde andará Dulce Veiga? Do Caio Fernando Abreu. Terminei de ler hoje.

Post avançado, quinto parágrafo e achei melhor não. Audácia minha... Mas queria escrever algo, já que esse livro é bem importante. Importante como literatura e importante pra mim. É que a minha edição tem uma dedicatória (daquelas que eu leio, releio e faço carinho). Uma dedicatória singela, despretensiosa que previa minha identificação com a obra.

"Caio, Papel, par perfeito"

Verdade, o começo é um pouco difícil, narrativa tem um ritmo estranho, meio anacrônico, desvairado. Períodos longos, pontuação diferente. Eu não consigo ler algumas coisas, já disse. Tem algo a ver com a pontuação e a minha respiração, não sei explicar. Sei que é muito chato parar de ler um livro no meio. Principalmente quando foi um amigo que deu, e ele espera silenciosamente (por quase um ano) que eu diga que terminei e o que eu achei. Já até vejo a cara de Língua sorrindo. Adorei amore.

Dedicatória de Língua como Prólogo e cartas de Caio a amigos no Epílogo sobre o "processo" de doze anos para escrever Dulce Veiga. Ironicamente (duplamente) a carta que mais gostei foi a que ele enviou a Guilherme de Almeida Prado, o próprio diretor do filme que eu meti o pau outro dia aqui no Papel. Lembram? For Rainbow... Caio se revirando no túmulo...

Sigamos, o trecho das cartas que escolhi é esse:
Londres, 12 de fevereiro de 1991 (Eu tava na sexta série, doido né?)
"(...) Então imagina. E se o Jean-Luc Besson se apaixona pelo livro? E se ele cai nas mãos do Stephen Frears? E se o Jean-Jacques Beinex me oferece milhões por uma versão com Isabele Adjani no papel de Dulce (envelhecida, claro)? E se lá de Madri Almodóvar comunica que Carmem Maura adoraria fazer o papel?(...)"

Irônico não? Nada de Almodóvar, Isabele Adjani, ou Carmem Maura. O diretor foi o próprio Guliherme de Almeida Prado, Maitê Proença no papel de Dulce e Carolina DICKman no papel de Márcia F., filha de Dulce, cantora, sapa, drogada e temperamental. Ainda consigo pensar em outros nomes vergonhosos como Nuno Leal Maia, Carmo Della Vechia (o budista, caseiro e discreto. Huum sei, na minha terra isso tem outro nome. Desde que saiu aquela Caras com ele na capa eu quis encaixar esse comentário maldoso em algum post, só consegui agora. Êeee), Oscar Magrini... Por aí vai. Muito difícil de entender, mas triste mesmo é o protagonista virar hétero e ter um final feliz de novela.

Vou ignorar solenemente essa obra cinematográfica. Juro. Mas gostaria de colocar mais um trechinho do livro que adorei (na verdade são muitos mas sei como é sacal ler posts grandes e introspectivos). Fala sobre saudade, assunto que venho tratando com certa frequência. Lindo esse sentimento. Admiro aqueles que convivem com ele pacificamente. Eu tinha que retornar a esse tema por que no post Poliamor eu me censurei e deixei de dizer aquilo de que sinto as saudades mais rasgadas... Tá entalado o parágrafo censurado, aquele que ninguém sabia que existia, mas eu sei.

"(...) Só alegria senti com Pedro. Uma alegria que era o avesso daquela que tinham me treinado pra sentir.

Na manhã seguinte ficamos o dia todo na cama, ouvindo Bola de Nieve, pedindo pizzas, cigarros e cervejas por telefone.(...)

Passamos dias assim, Pedro e eu, um dentro do outro. O cheiro, os líquidos, os ruídos das vísceras. O que era de quem, dentro e fora, nós não sabíamos mais.

Os dias se interrompiam quando ele ia embora. Recomeçavam apenas no mesmo segundo em que tornava a chegar.

Não sei quanto tempo durou. Só comecei a contar os dias a partir do dia em que ele não veio mais.

Desde esse dia perdi meu nome. Perdi o jeito de ser que tivera antes de Pedro, não encontrei outro.

Eu queria que voltasse, não conseguia viver outra vez uma vida sem Pedro.

Mas Pedro não voltou, eu não voltei.(...)"

Um comentário:

Lingualguma disse...

Eita pau!
Nem tem o que dizer
...